De vez em quando penso, cá com meus botões, nos devaneios do meu dia estressante: 

"o que seria do mundo sem o trabalho invisível de mulheres?"


Nós que seguramos e mantemos a estrutura da sociedade. Imagina uma greve geral internacional de mulheres?! 

Mas é claro...porque a estrutura patriarcal nos colocou num lugar que nos espreme, nos sufoca, nos mata. E não mata no sentido figurado, como dizia nosso amigo Chaves do 8. Nos mata mesmo! 

O lugar do cuidado é da mulher. Até as profissões relacionadas à cuidado são majoritariamente ocupadas por mulheres. Isso mantém a ideia de que nascemos com extinto maternal - o do cuidado.

Mas a leitura é a seguinte: 

- trabalho doméstico não remunerado; 

- maternar e incluir nesse cuidado materno, por vezes, o marido, o irmão, o pai;

- ter duplas e triplas jornadas de trabalho; 

- não ter direito de reclamar das bençãos de Deus. 

 Não há políticas públicas eficazes de atenção à mulher em seu sentido mais amplo: cuidados profissionais psicológicos, saúde física, educação e profissionalização, esporte e lazer, cultura. Não há reconhecimento do nosso trabalho. Seguimos ganhando menos e exercendo as mesmas funções...na verdade, exercemos muito mais funções.

Em tempos pandêmicos, além do difícil isolamento social vivenciado por todo o mundo, milhares de mães enfrentaram um estágio para o inferno: filhos sem poder ir à escola, maridos em trabalho remoto, tios, padrastos, irmãos, primos, pais ausentes, aumentando a carga do cuidado....todos os homens contribuindo com sua parte no profundo descuido e aumento excessivo do trabalho doméstico feminino...isso sem falar na violência doméstica...isoladas em casa, numa pandemia sem data pra terminar, sofrendo todos os abusos que se possa imaginar...o sistema patriarcal é desumano. .

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Mas e a mulher que não tem filhos? Com muita certeza posso afirmar que ela não passa desapercebida desse modelo violento. A esta, é direcionado um outro tipo de cobrança, uma outra forma de desmerecimento ou desqualificação. Essa mulher não mãe é enxergada como uma pessoa que não se encontrou, ou que não foi feliz nos relacionamentos, ou que não está completa como mulher que não gerou. Sim , porque qual o sentido de ser mulher e não querer gestar? Não querer amamentar? Não querer fazer enxoval, passar noites em claro, acabar com a coluna, abdicar a própria vida e todos os seus planos? 

Maternar (que sempre foi, é e sempre será uma tarefa solitária, pois por mais presente que seja o pai, o filho é sempre da mãe! Parece redundante, mas no profundo desta frase há uma verdade incontestável: o filho é da mãe. Ela que deixa sua vida de lado por ele. Somente ela. Nunca vi, numa separação, o homem pegar sua mala e seus filhos pra poder sair de casa. Ele leva só a mala, mesmo) é só mais uma das várias exigências feitas à uma mulher....que soma-se às outras, como: 

- trabalhar como se não tivesse filhos;

- ter filhos como se não tivesse trabalho fora de casa;

- não ter filhos e ser taxada de incompleta;

- não casar e ser chamada de mal amada e outras derivações; 

- ser lésbica e ser chamada de mal comida e outras derivações; 

- ser autônoma e ser chamada de desocupada ou que não trabalha;

- fazer tudo que um homem cis hétero faz e ser ridicularizada e rebaixada;

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A quem esse sistema favorece? Um dia, em uma das muitas manifestações políticas que fui, ouvi uma fala de uma das ativistas: "a revolução é feminista!".

Li alguns livros da Chimamanda Ngozi Adichie "Sejamos todas feministas" e "Para educar crianças feministas - um manifesto" e uma voz dentro da minha cabeça me lembrava várias das violências e violações de direitos que já sofri, unicamente por ser mulher, e fizeram-me compreender o motivo pelo qual essa frase faz tanto sentido "a revolução é feminista".

É cansativo, ainda, ter que explicar o que é o feminismo. Mas é necessário. E urgente. 

Talvez essa geração já não consiga as transformações que precisamos. E é por isso que a próxima precisa vir forte.

Entendo meu papel como mãe dessa forma: a formação de uma criança feminista, ativista e de coragem. Uma coragem permeada por conhecimento, esclarecimento, argumentos que derrubem esse sistema que nos sufoca, nos cala e nos mata. Ou que ela ao menos, tente. 

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Feminismo é um movimento político filosófico que tem por objetivo a emancipação e empoderamento de todas as mulheres e a derrubada do patriarcado. Um sistema onde sejamos todos iguais, em direitos e obrigações. Onde possamos todos ter as mesmas oportunidades e partir do mesmo ponto de largada. 

Eu não quero muito. Eu só quero viver em paz. 


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